Em 9 de agosto é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas. Pensando em trazer um pouco desta cultura para os nossos leitores, escrevemos este artigo em comemoração a estes povos tão importante para nossa sociedade.
O começo de tudo
Para falar da relevância desta data na nossa sociedade e cultura, precisamos primeiro viajar no tempo. Imaginemos o frio que fazia ao final da segunda era glacial! Somente uma roupa bem costurada com linhas de cânhamo, feitas com couro de mamute, ou de algum outro animal que suportava o frio da zona ártica.
Imaginou? Pois bem, assim começamos a conhecer os primeiros sinais dos povos indígenas. Era tanto frio que a maioria dos oceanos polares haviam se congelado, formando espessas geleiras onde hoje é o Mar de Bering. Era por ali a única passagem caminhável para as Américas e através dela, há 12 milhões de anos, vários grupos de humanos fizeram essa travessia.
Levava tempo cruzar essa zona. Foram séculos de andanças pela América do Norte, até chegar aonde hoje é o atual México. Nesse caminho, iam conhecendo cada rio, nomeando cada espécie de animal, de planta, fazendo a biografia da terra por onde caminhavam.
O céu que viam já não era o mesmo: o hemisfério sul tinha novas constelações, novos desenhos cósmicos, novas interpretações sobre essa imensidão de matéria escura.
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A cultura indígena atualmente
Ainda hoje, com todo o aparato tecnológico que temos, áreas como o tampão de Darién – na fronteira entre os atuais Panamá e Colômbia – que são praticamente intransitáveis, perdemo-nos nas selvas tropicais por desconhecer seus caminhos.
Entrar na selva exige conhecimento, exige percepção das cores, dos cheiros e das propriedades medicinais: saber qual planta pode curar uma indigestão, ou sanar uma infecção, saber qual madeira é a melhor para erguer casas, quais frutos são comestíveis, quais cipós fazem melhor amarra.
Todo esse conhecimento levou gerações para ser consolidado e foi passado pelo mestre, o cacique, o guardião de toda a sabedoria sobre o mundo. Um cacique é como um museu vivo: uma biblioteca, uma universidade, um corpo diplomático inteiro. É ele quem melhor do que ninguém sabe sobre a cultura de seu povo, é ele o alicerce de uma outra humanidade, diferente daquela trazida pelos europeus.
Esses povos cruzariam rios caudalosos, como o rio Negro, cordilheiras intransponíveis, como os Andes, desertos secos, como o Atacama – o mais seco do planeta – e chegaram à Terra do Fogo, quase no continente Antártico. Pelo caminho, fundaram civilizações, ergueram templos, e pirâmides. A cidade de Tenochtitlan foi a maior delas: erigida sobre o lago Texcoco, a cidade albergou a mais profícua civilização mesoamericana e era a capital do Império Mexica, ou Asteca.
Mais ao sul, um outro lago era venerado por um reino tão enorme quanto, o lago Titicaca. O lago do grande puma de pedra é até hoje uma das maravilhas desse lugar que uns chamavam de Abya yala, “Terra Viva” ou “Terra Fértil”, e que hoje denominamos com um nome muito mais técnico e menos poético, América do Sul.
Era de Cusco, o “umbigo do mundo”, que partiam os mais diversos peabirus, ou trilhas, que chegavam até o pantanal mato-grossense e ao planalto central. A expressão “quem tem boca vai a Roma” poderia ser adaptada para “quem tem boca vai a Cusco!”.
Num fatídico dia de 1492 para os mesoamericanos, ou 1500 para os brasileiros, que esses dois mundos, essas duas humanidades, encontraram-se. Tudo o que se seguiu foi obscuro: guerra biológica, exploração, cárcere e apagamento. Esses quase 500 anos que se seguiram até os dias atuais foram exatamente o oposto dos outros 12 milhões de anos. Poluíram-se os rios, talharam-se as matas, apagaram-se os caminhos, esqueceram-se os nomes das plantas, dos animais, abandonaram uma ideia de humanidade que integrava o homem à natureza para uma outra em que um ser humano valia menos que uma pepita de um mineral.
Conclusão
Tudo o que foi levado destas terras ancestrais serviu para dar fogo às caldeiras da revolução industrial, à reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755, aos enfeites das famílias reais do velho mundo. E seus guardiões, hoje desamparados pelo estado brasileiro – que em sua carta magna garante o respeito à sua existência – lutam incansavelmente pelo simples direito de existir tal e como são.
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Hoje em homenagem ao Dia Internacional dos Povos Indígenas, dedicamos este 9 de agosto.