Olá! Nossa conversa de hoje é com o palestrante Flávio Peralta, profissional que após sofrer um choque elétrico e ter amputados seus braços, ministra palestras sobre a importância das normas de segurança no trabalho, além dos aspectos motivacionais de superação.
Após superar o abalo emocional, Peralta criou o site Amputados Vencedores, que tem o objetivo de dar o devido enfoque para os riscos dos acidentes de trabalho.
Lá, outros profissionais que passaram por situações semelhantes compartilham suas histórias e superações, criando uma rede de apoio.
Confira a entrevista na íntegra:
1. Para introduzir, conte um pouco da sua história profissional antes do acidente.
Morei durante muito tempo fora de Londrina (PR), onde resido atualmente, e quando voltei tinha o sonho de trabalhar com meu pai que é eletricista e muito reconhecido no mercado.
Trabalhamos juntos por seis anos até que ele saiu da empresa e eu assumi a responsabilidade pelo cargo, ou seja, assumi as atividades com alta tensão.
Certo dia recebi a demanda de trocar um transformador em uma propriedade rural. Lembro que não utilizei os EPIs corretos para a atividade e, por essa razão, acabei recebendo uma descarga de 13.800 volts.
Este acidente mudou totalmente minha vida e perdi meus dois braços.
2. Como foi enfrentar o pós acidente? A empresa prestou apoio a você?
Após o acidente, recebi muito apoio da minha família e sempre tinha um acompanhante comigo no hospital. Com relação à empresa, decidi aceitar que foi minha falha, apenas.
Segui com minha vida normalmente, mas levei cerca de três anos para me recuperar, realizando um intenso trabalho de reabilitação na fisioterapia.
3. Existia uma gestão de SST na empresa em que trabalhava?
O acidente ocorreu há 21 anos e não havia uma gestão de SST na empresa.
Eu nunca tinha escutado falar em técnico de segurança do trabalho.
4. Como foi o insight para iniciar as palestras sobre conscientização em SST?
Um técnico de SST de Curitiba (PR) entrou em contato e me convidou a fazer alguns testes para palestrar. A partir de um simples texto escrito em um papel eu iniciei minhas palestras.
Já ministrei mais de mil palestras, levando meu conhecimento e experiência para muitos profissionais em todo o Brasil e até mesmo na Colômbia.
5. Como é a sua recepção nas palestras? Os profissionais realmente se demonstram interessados e preocupados com a importância da segurança do trabalho?
A recepção nas palestras é sempre incrível. As pessoas demonstram interesse com o olhar.
Temos como objetivo chamar atenção para os riscos dos acidentes de trabalho que podem acontecer com qualquer um sem a devida prevenção.
E o retorno que obtemos é muito positivo, principalmente para as empresas que nos convidam.
6. Para você, qual é o principal desafio enfrentado hoje nas empresas em relação à gestão de SST?
O maior desafio enfrentado dentro das empresas é a crise.
A Segurança do Trabalho não pode parar nunca, tem que ser continuamente criada, porque salva vidas.
Percebo que os profissionais da área de saúde e segurança precisam, mais do que nunca, do apoio do departamento de recursos humanos para mantê-los mais unidos. Quanto mais união tivermos, menos acidentes vão acontecer.
7. Como surgiu a ideia de criar o Site Amputados Vencedores? Qual é o objetivo e conteúdo principal?
A partir da minha história de superação surgiu a ideia de criar o Amputados Vencedores, que é uma plataforma digital na qual busco conhecer outros casos de acidentes para compartilhar e conscientizar sobre a importância de gerir a segurança do trabalho nas empresas.
Quando um profissional sofre um acidente grave, ele pode até receber o apoio emocional e financeiro dos familiares e amigos, mas é importante colocar em mente que apenas ele consegue se motivar e vencer o desafio.
E o Amputadores Vencedores cresceu tanto que atualmente recebemos quase 50 mil visitas por mês, e-mails, cartas de pessoas que perderam algum membro do corpo ou que estão em depressão.
O nosso papel é encorajá-las compartilhando nossas experiências e mostrando que existe vida após a amputação.
8. Você também escreveu um livro, né? Conte como foi a produção.
Foi uma surpresa poder escrevê-lo. Minha esposa marcou uma palestra em Maringá (PR) e nela encontrei Wilson Meirelles, um grande homem que me ensinou como me comportar no palco e a palestrar. Além disso, recebemos um convite dele para participar de um curso em São Paulo (SP).
Esta foi a oportunidade que tivemos de conhecer o Sérgio, dono da livraria Nobel, que elogiou minha história e afirmou o potencial dela para virar um livro.
Minha esposa, Jane, começou a gravar em áudio depoimentos dos meus familiares dizendo quais foram os desafios enfrentados por eles em relação a minha amputação.
E assim escrevemos o livro, que teve mais de 40 mil exemplares vendidos.
Decidimos compartilhar a história do Flávio Peralta como forma de conscientização sobre os riscos de executar as atividades sem observar as normas de SSO, visto que o número de mortes em acidentes do trabalho voltou a crescer no Brasil.
Para quem quiser acompanhar o trabalho dele, deixamos aqui seu LinkedIn.