Eba! Mais um Entrevista com Especialista e dessa vez com o Técnico em Saúde e Segurança do Trabalho, Cosmo Palasio Moraes Junior, que problematiza a evolução dos treinamentos em SST.
Cosmo Palasio é técnico em SST, iniciou sua carreira na Serra Pelada, passsando pela Leite Paulista e Parmalat, e seguiu com sucesso pela Volkswagen e se tornou consultor na área.
Atua como consultor e palestrante, escreve artigos para a Revista Proteção e para completar o currículo de um verdadeiro especialista, é diretor de ética, cidadania e trabalho do SINTESP (Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de SP).
Acompanhe abaixo nossa conversa 🙂
Penso que seja importante refletirmos sobre a finalidade e utilidade de qualquer coisa que seja. Claro que quando pensamos nisso, levamos em conta também a POSSIBILIDADE diante da estrutura e contexto que temos. E para que isso ocorra, muitas as vezes precisamos voltar no tempo e compreender também a origem das coisas e analisar o contexto daquele tempo.
Quando surge o profissional SUPERVISOR DE SEGURANÇA DO TRABALHO dentro de uma norma, tínhamos uma necessidade e um contexto, que era reverter um quadro assombroso em termos de acidentes e doenças do trabalho e um contexto de progresso a qualquer custo.
Tecnicamente, quem pensou nesse profissional o fez com ideia de ter, dentro das organizações, pessoas capazes de desenhar, planejar e implementar bases para uma gestão minima de segurança e saúde no trabalho, isso fica claro pelo “todo da obra” não só da Norma Regulamentadora (NR) 4 como das demais NRs.
Isso fica mais evidente pela definição de efetivos dos SESMT, já que ninguém racionalmente pensaria que aquela quantidade por si faria frente ao problema.
Portanto, o Técnico de Segurança deveria ser o planejador, gestor e mesmo o supervisor dos programas de segurança e saúde no trabalho. E se isso para alguns parece pouco trabalho e porque de fato pouco ou nada conhecem sobre o assunto.
Eis uma coisa que me preocupa muito, porque possui diversas causas e isso está diretamente ligado à minha resposta da pergunta anterior.
Se não sei para que sirvo ou se não faço o que deveria fazer para contribuir em soluções duradouras, não vou me interessar por aprender a como se faz isso de fato.
Parte das vezes as escolas preparam fadas, mas o ambiente de trabalho quer bruxas. E disso surge o aprendizado do que é periférico e que traduz resultados momentâneos. Muitos de nossos colegas sabem aplicar treinamentos e o fazem bem, mas não sabem criar programas e planos para que aquela experiencia não seja isolada ou quase sempre unica.
Em relação à atuação, vejo que os nossos profissionais fazem bem o que o modelo da SST brasileira se tornou, mas com alto custo e pouca valorização profissional. E mais ainda com custos para as organizações que poderiam trabalhar com soluções mais planejadas e duradouras.
A educação brasileira precisa de uma pessoa que a coloque como prioridade e não digo apenas aquela que diz respeito da nossa formação, mas a toda a educação em si. E o custo da forma com que isso é feito hoje no Brasil é inestimável e apresenta consequências incalculáveis porque boa parte dos profissionais sabe o que é mas não sabe o que e como fazer.
O ensino não pode ser uma atividade puramente secundária ou de complementação de renda. Claro que existem poucas e boas exceções, mas a cada dia que passa, estas têm se tornado mais raras, porque aquelas instituições de ensino que de fato fazem o que é preciso, investem para obter resultados, são obrigadas a competir com a portinha do zé das couves e ninguém consegue fazer nada para acabar com isso.
Há muitos casos nos quais a organização já alcançou um nível de entendimento adequado sobre o assunto Prevenção, então mais do que isso, ali exige-se que o exercício seja realmente pleno.
Mas a grande maioria simplesmente desconhece o que um profissional de SST pode e deveria fazer e acaba desviando suas principais funções. Espero que um dia as empresas entendam do que estou falando, pois em qualquer instituição o Técnico em SST lida com a vida humana e isso é muito sério.
Para que algo tenha utilidade, é preciso ter uma base sobre a qual posso ser instalada ou onde sirva de complementação. Certa vez escrevi e um artigo o qual, por analogia, dizia que uma porção de retalhos na mão de quem não sabe usá-los, não passam de resíduos a serem mal utilizados ou quase sempre descartados.
Já na mão de uma pessoa hábil, os retalhos se transformam naquelas lindas colchas. Ou seja, para que qualquer ferramenta seja útil, ela precisa de alguém que saiba manuseá-la, pois o contrário vai se tornar uma obrigação sem vida e valor ao processo.
Eu vejo a tecnologia como algo positivo se o profissional sabe utilizá-la a seu favor e entende como ela deve ser aproveitada, ou seja, ela precisa de bons profissionais.
Creio que não exista uma resposta unica e definitiva para isso, pois o problema não está simplesmente na modalidade – existem treinamentos bons e ruins – independente de serem presenciais ou não.
Penso que para tomarmos uma decisão em relação ao uso do EAD para a prevenção de acidentes e doenças no trabalho, a última coisa que deve ser levada em conta e economia. Antes disso devemos considerar, por exemplo, a questão da cultura da organização, se já é possível trabalhar dessa forma e isso quer dizer muitas coisas como por exemplo os controles quanto a participação de fato das pessoas.
Penso, que nas organizações maduras usar a modalidade EAD para Treinamentos de SST voltados a gestão, conhecimento de ferramentas gerenciais, etc seja até uma possibilidade, desde que atrelada a cobrança de resultados relativos ao conhecimento. Já os cursos e treinamentos relacionados diretamente a temas que dizem respeito a acidentes graves nesse momento de forma alguma.
Um ponto que me preocupa muito – depois de ter realizado mais mil treinamentos em minha carreira – é a distância do grupo. Segurança do Trabalho tratada de forma isolada e individual na minha forma e ver não tem o mesmo poder e alcance.
Sendo uma pessoa que passa a vida inteira pensando e atuando na prevenção de acidentes e doenças no trabalho, vejo com carinho que algumas atividades que conhecidamente fazem mal ao ser humano passem a ser feitas por máquinas, e gostaria muito que isso encerrasse o assunto.
No entanto, parece que antes de evoluirmos tecnologicamente, esquecemos da evolução social e por isso antes da solução dos sonhos de qualquer prevencionista, existe o entendimento que as pessoas precisam da inserção no mercado de trabalho.
Que uma sociedade deve ser conduzida na direção de atender a sua realidade como um todo e não apenas os interesses da minoria que parecem ser tão bons – mais uma vez lembrando – sem levar em conta outras consequências que podem causar.
Claro que não é a tecnologia que está errada, mas sim o atraso que deixamos acontecer em termos de sociedade.
Atualmente, com certeza é conseguir formar uma equipe e conseguir mante-la posteriormente. Enfrentamos o problema da falta de profissionais que realmente saibam fazer, executar, resolver, planejar e isso ocorre em todos os setores econômicos.
A nossa cultura trata a educação como “gincana de resultador” e isso torna o modelo de trabalho mais equivocado e menos criterioso.
Dentro dessa mesma ideia, uma outra dificuldade é saber compor um time conforme a realidade que se tem. Para muitos, o técnico de SST é tudo igual, mas temos perfis, habilidades e competências diferentes que são fatores que pensam na balança.
Estamos distantes de colocarmos na prática o que muitos repetem diariamente na teoria.
Eis aqui uma questão muito delicada, sobre a qual precisamos colocar luz para que as organizações possam investir no preparo das pessoas em determinadas funções.
Claro que precisamos trabalhar a ideia com a equipe de técnicos que a grande maioria dos acidentes do trabalho não é culpa do SESMT, e isso pode parecer óbvio, mas muitos profissionais não pensam assim.
Devemos partir do principio básico de que aquele que planeja o trabalho do outro, o autoriza em determinadas condições e permite que ele seja o responsável também pelas consequências disso – e não há nisso qualquer absurdo. A responsabilidade existe quando a falha daquilo que foi proposto como meio para prevenção foi por falta de conhecimento ou qualidade de atuação do SESMT.
Eu sempre brinco em meus cursos que se um médico prescreve o remédio certo e a pessoa não o consome de maneira adequada, que culpa teria esse medico do resultado final?
Infelizmente, entre outras coisas folclóricas que existem em Segurança e Saúde do Trabalho, boa parte do professores parecem querer educar como alguns pais educam seus filhos: criando medo.
Claro que tendo envolvimento direito, contínuo e amplo, percebo que dentro de uma organização alguns são responsáveis por outros alguns, enquanto existem profissionais que lidam com TODAS as vidas dos demais. Dessa forma, vejo que há a necessidade de um líder de produção, por exemplo, com uma equipe de 30 colaboradores, ter a oportunidade de sentir, por um dia, o impacto da perda de um acidente envolvendo um técnico de segurança do trabalho que coordena 300 colaboradores.
Em uma palestra em Uberlândia (MG), nós tratamos disso e não só no aspecto acidente fatal, mas na necessidade das empresas de cuidarem da saúde mental e física do seu SESMT, principalmente pelo desgaste das suas atividades e cenários de riscos cotidianos. Vejo muitos SESMTs doentes e isso é um sinal de alerta na direção do que isso pode ser como impacto para a gestão do assunto.
Curtiu o bate-papo? Então aproveite e conheça mais sobre o trabalho do Cosmo em seu perfil no Linkedin 😉
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